sábado, 27 de abril de 2024

O BRASIL SE TORNOU UM EVANGELISTÃO?

H
á muita gente preocupada com a insistência das redes sociais de extrema-direita e evangélicas em continuarem reprisando velhas mentiras ou criando novas versões, sem perda de seguidores. 

Tal fidelidade, capaz de gerar meio-milhão de visitas e centenas de milhares de curtidas em algumas horas, foi reforçada com as recentes críticas do proprietário do X, Elon Musk ao ministro Alexandre de Moraes do STF e deu ensejo a mais uma micareta dominical bolsonarista em Copacabana, reunindo o Bozo, o pastor Silas Malafaia e outros espécimes da mesma laia. 

Embora na bufonada de fevereiro na avenida Paulista (SP) o clima tenha sido comedido, com o astro da trupe propondo anistia para todos, a recente intervenção estrangeira de Elon Musk relançou o clima de polarização e deverá trazer de volta os discursos de ódio contra o presidente Lula e o STF.  

Alguns canais de esquerda se perguntam por que o governo de Lula não é mais ativo nas redes sociais para mostrar as realizações positivas de seu governo, a fim de estancar esse constante desgaste provocado por fake news e discursos de ódio.

Ou é simplesmente impossível chegar até os adeptos ultradireitistas (ainda que em grande parte sejam negros, pardos, pobres e mulheres), insensíveis aos alertas de que seu líder é racista, indiferente às medidas contra a pobreza e mesmo contrário à liberdade para as mulheres?
Musk: rato que ruge em nome da liberdade de empulhação

Só alguns começam agora a perceber a existência de uma impermeabilidade impedindo os bolsonaristas de captarem as verdades relativas aos direitos sociais. 

Tal impermeabilidade é criada pela maneira como funcionam as seitas neopentecostais, as quais, como comunidades, apoiam e incentivam atividades capazes de criar proximidade entre as pessoas e são como células ativas, com reuniões todas semanas. 

As pregações, as escolas bíblicas para crianças e jovens são constantes, semanais ou bissemanais, não deixando espaços para outros tipos de preocupações depois do trabalho. Nisto lembram as antigas células do partido comunista com atividades para estudantes, donas de casa e operários. Hoje, não se faz mais isso, porém os evangélicos, além de religião, se tornaram partido político fundamentalista.

O líder petista José Dirceu, em recente entrevista, sustentou que Lula e o PT deveriam ir ao encontro dos evangélicos. Não deixou nada preciso, mas lembrou que a igreja católica entrou em decadência ao reprimir a teologia da libertação, que ia ao encontro do povo, deixando então o caminho aberto para os neopentecostais.

Muitos bolsonaristas esqueceram de que foi Lula quem favoreceu a criação da marcha para Cristo e facilitou os alvarás para as igrejas evangélicas funcionarem em garagens, enquanto a então presidente Dilma compareceu à inauguração do Templo de Salomão do Edir Macedo. 
Dilma botando azeitona na empada do Edir Macedo

A ideia de o Lula ir ao encontro dos evangélicos não é assim tão simples, pois não houve retorno favorável aos esforços petistas do passado. 

Muito ao contrário: empenhados em impedirem a eleição do Lula em 2022, os líderes evangélicos usavam as redes sociais para amedrontar seus fiéis com os espantalhos do advento do comunismo e do fechamento de igrejas caso o candidato petista fosse eleito. Ainda hoje a bancada evangélica amiúde boicota o governo do Lula.

Ressalve-se que, embora a maioria evangélica continue sendo bolsonarista, existe também uma minoria de esquerda, como o deputado federal Henrique Vieira e a ministra verde Marina Silva. Entretanto, os pastores e seguidores evangélicos são majoritariamente fundamentalistas, incluindo muitos golpistas; suas afinidades com a extrema-direita saltam aos olhos. 

Na verdade, quase se poderia falar num desvio evangélico ou numa refundação da teologia evangélica, por influência da igreja Assembleia de Deus e de teólogos fundamentalistas dos EUA cujos seguidores lá apoiam Donald Trump para a presidência. 

Trata-se da Teologia do Domínio, que, num rápido resumo, consiste numa recalibragem da mensagem cristã evangélica misturando-se com preceitos básicos do  Velho TestamentoO cristianismo deixa de ser só mensagem de paz e amor, como se pregava, para juntar conceitos guerreiros do Deus de Abrãao.
As arengas dos pastores do ódio
são corpos estranhos no século 21
 
Quem seguiu pela televisão a última micareta bolsonarista  na avenida Paulista talvez tenha percebido: não se falava nunca em Jesus Cristo, mas sempre em Deus, subentendido o Deus de Israel, donde uma identificação dos evangélicos com os israelenses (embora não sejam cristãos), a ponto de ostentarem e respeitarem a bandeira de Israel.

Nessa linha, os novos evangélicos são combatentes do Bem contra o Mal, ou seja, defendem valores vigentes no século passado, combatendo o aborto, o homossexualismo, o feminismo, etc. 

Nos EUA, onde a colonização foi guerreira e a posse e o uso de armas é comum na população, há o risco de guerra civil, caso Trump seja derrotado ou não possa disputar a eleição presidencial. 

Ao que parece (pelo menos os fatos o demonstram), a teologia belicosa do domínio, já transformada em partido político de extrema-direita e orientada no sentido de garantir a eleição de Bolsonaro, não funcionou com os evangélicos brasileiros, cujo pacifismo inato fez ruírem os planos dos líderes golpistas na intentona fracassada de 08/01/2023.

Resta uma dúvida: por que Deus escolheu como líderes Trump, nos EUA, e Bolsonaro, no Brasil? Para isto é dada a seguinte explicação: Deus unge ou escolhe pessoas que nem sempre são perfeitas. E logo é citado o caso do rei Davi, herói contra Golias, escolhido por Deus, mesmo tendo antes pecado no caso de Urias e Betsabá, crime e adultério. Os pastores então impingem aos crédulos que Deus escolheu Trump mesmo com todos os seus erros, e Bolsonaro apesar de todas as suas falhas e pecados.

Há alguma lógica ou racionalidade nisso? Não, nenhuma. Entretanto, os evangélicos poderão ultrapassar os 50% da população em 2050 e criar novas leis favorecendo seu credo conservador e fundamentalista. Não será uma exceção: o Irã é uma teocracia islâmica, o governo do Hamas em Gaza é outra e Israel cada vez mais involui para uma teocracia. (por Rui Martins)
I
mportante
 – escrever para o Observatório da Imprensa não é um emprego, não se ganha nada, mas era para mim uma oportunidade de utilizar o conhecimento de uma vida no jornalismo para analisar o que se lê ou vê no mundo da imprensa, até porque o OI é geralmente lido por estudantes de jornalismo. 

Por isso, para mim é uma tristeza ver que o OI muda de direção, exerce censura e desrespeita um profissional. É em nome desse respeito à profissão e à liberdade de expressão que peço aos leitores para divulgarem esta informação. Grande abraço. (RM)

quinta-feira, 25 de abril de 2024

HÁ 50 ANOS, A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS COLOCAVA FIM À MAIS LONGA DITADURA FASCISTA DA EUROPA


Às 0h25, pelo horário de Lisboa, do dia 25 de abril de 1974 tocava na então Rádio Renascença, católica e defensora da ditadura, a música Grândola, Vila Morena, composta por José Afonso. A música, banida no país pela censura, era a senha para a mobilização das tropas que iriam ocupar a capital portuguesa e derrubar o regime salazarista, existente desde 1926,o mais longo regime fascista em vigor então na Europa. 

Surgido no contexto das contrarrevoluções fascistas das décadas de 1920-30, o chamado Estado Novo foi fundado por António de Oliveira Salazar, um simpatizante de Mussolini e de Hitler, e tinha por base um pensamento ultramontano, de conservadorismo católico, tendência antimodernizante, corporativista e anticomunista. Durante suas quase cinco décadas de existência, transformou Portugal no país mais pobre e atrasado da Europa ocidental, graças, sobretudo, à resistência ao avanço pleno das forças capitalistas. O pilar do regime era a manutenção do extenso império transmarítimo, herança do período das navegações, que incluíam possessões na África, Ásia e Oceania. Em suma, cumpria um papel de retaguarda contrarrevolucionária na porta da Europa, pois economicamente nunca havia cumprido qualquer papel relevante no capitalismo contemporâneo.

"E Depois do Adeus" foi a primeira música tocada pelo movimento revolucionário, às 22h55 do dia 24. Era a senha para as tropas se prepararem para a saída às ruas. 

As colônias, inclusive, foram uma das causas fundamentais para o colapso da ditadura, pois havia quase dez anos Portugal levava adiante custosa e sanguinária guerra na África contra a independência de suas possessões, particularmente de Angola e Moçambique. Até 1974, a guerra já matara e mutilara dezenas de milhares, criando o descontentamento popular com os contínuos alistamentos e o gasto exorbitante para um conflito claramente já perdido. Era, guardadas as devidas proporções, o Vietnã português e, igual ocorria nos EUA à época, alimentava domesticamente uma situação revolucionária. 

E essa revolução acabou por vir. O golpe militar desfechado majoritariamente por capitães ocupou o Paço, sede do governo, tomou rádios, TVs, o aeroporto, quartéis e outros prédios públicos chave durante o começo da manhã. Não houve qualquer reação do regime e ao fim do dia, Marcelo Caetano, que havia assumido o poder após a morte de Salazar, se dirigia dentro de um blindado - para evitar o linchamento por parte dos populares - para o aeroporto, de onde seguiria para seu exílio no Brasil. 

Povo e soldados confraternizam
nas ruas de Lisboa

Entraram para a história as cenas dos agentes da PIDE - uma espécie de DOI-CODI português - sendo revistados apenas de cuecas pelos militares e depois sendo colocados para dentro das celas das delegacias, as mesmas que pouco antes eram ocupadas por presos políticos. 

O Movimento das Forças Armadas -MFA- triunfava pelo país e o povo afluía às ruas para celebrar junto aos soldados, com cravos vermelhos, cânticos de protestos e manifestações massivas. Mas ali era apenas o começo, pois a derrubada do regime foi o ponto inicial de uma profunda revolução socialista que iria se estender até 1975, mais precisamente até o golpe contrarrevolucionário de 25 de novembro daquele ano, o qual colocou fim ao chamado Processo Revolucionário em Curso e marcou a vitória do capitalismo e o encaminhamento do país tal como é hoje. 

No entanto, as conquistas da revolução dos cravos são inegáveis. Portugal tinha níveis de pobreza semelhantes aos dos países da América Latina, com índices imensos de analfabetismo, mortalidade infantil e desnutrição. Hoje é um dos melhores países para se viver na Europa, com um robusto sistema de bem-estar social, apesar dos ataques feitos nas últimas décadas. Isso não teria sido possível sem a mobilização dos trabalhadores em conjunto com soldados durante aquele frenético ano de 1974-75.

Em um momento em que a extrema direita cresce por lá, como no resto do mundo, através do fascistóide Chega, de André Ventura, atacando e negando o movimento revolucionário de 25 de abril, é preciso rememorar a contundente ação popular e sempre sonhar com novas revoluções do cravo. (por David Coelho) 

"Grândola, Vila Morena", o verdadeiro hino de Portugal. 


quarta-feira, 24 de abril de 2024

SE CÁSSIO SOFRER A MESMA INGRATIDÃO QUE GYLMAR E RIVELLINO, CORINTHIANS PASSARÁ RECIBO DE QUE NÃO MERECE TER ÍDOLOS!

São Gilmar, o das defesas elegantes
Com portentosa atuação de Gylmar dos Santos Neves, o Corinthians, numa fase em que era saco de pancadas do Santos de Pelé, conseguiu um heroico empate por 1x1 em plena Vila Belmiro, no último domingo de julho de 1960. Euforia.

Logo no meio da semana, contudo, perdeu por 3x2 do nanico Jabaquara no Parque São Jorge e a infiel torcida decidiu que o extraordinário goleiro, único jogador corinthiano titular do escrete campeão do mundo em 1958, falhara de propósito  para ser vendido ao Santos.

De onde surgiu uma suspeita tão destoante do caráter do acusado? É que um atleta adversário, exímio cobrador de faltas, fizera 1x0 com um chute colocado; Gylmar, atrapalhado pela barreira, pulou atrasado. Aí, no final da partida, nova falta perigosa surgiu e ele dispensou a barreira, sendo novamente vencido, dessa vez por um petardo. 

Final: 3x2 para o Jabuca e Gylmar, que ainda não havia decidido se aceitaria a proposta do maior time brasileiro de então, começou imediatamente a fazer as malas. Seria bicampeão mundial tanto pelo Brasil em 1962 quanto pelo time praiano em 1962/63 (Torneio Intercontinental uma ova!). 

Roberto Rivellino, o garoto do Parque, teve de ir embora do Parque por causa da hostilização dos infiéis torcedores: depois de ele carregar o fraco time alvinegro nas costas ao longo do campeonato paulista de 1974 inteiro, não conseguir evitar o empate (1x1) e a derrota (0x1) nas duas partidas da final contra o Palmeiras. O único titular corinthiano da seleção brasileira que conquistou  o tri em 1970 também recebeu um pé na bunda como prêmio.
Rivellino se tornou titular do Corinthians aos 19 anos

Agora chegou a vez do segundo jogador que mais vezes (712) vestiu a camisa do Corinthians em todos os tempos e principal responsável pelas duas maiores conquistas do
timão ao longo de sua história centenária, a Libertadores e o Mundial de Clubes de 2012.

Embora esteja alternando boas e más exibições, Cássio Ramos nem de longe merece ser feito de bode expiatório pelos erros crassos da última e da atual diretorias corinthianas, muito menos pagar pelo papelão que alguns jornalistas caçadores de bruxas fizeram ao ressuscitar um episódio de 35 anos atrás para impedir o sexagenário técnico Cuca de continuar treinando o Corinthians. 

Como Cássio comandara o elenco numa manifestação de solidariedade ao Cuca após uma vitória difícil, virou alvo desses macartistas de esquerda, que mais inconformados ainda ficaram quando o episódio recentemente teve uma reviravolta, terminando com a admissão por parte da corte estrangeira de que:
— a sentença contra o Cuca, decidida sem que lhe fosse garantido o direito de defesa, só poderia ser, como foi, definitivamente anulada; e
— novo julgamento é impossível, pois o episódio  já está prescrito faz uma eternidade.
Cássio salvando gol do Chelsea em 2012

A campanha de desqualificação do Cássio, insuflada por pessoas que atuam mais como identitárias fanáticas do que como jornalistas, bem como por torcedores tão descerebrados quanto aqueles que detonam as últimas tentativas de reação do time lançando sinalizadores que levam à interrupção da partida por vários minutos, finalmente tirou Cássio do sério. 

Após a derrota deste meio de semana, na qual o time inteiro atuou pessimamente e o técnico mostrou estar perdido no espaço, Cássio deu sofrida entrevista queixando-se da perseguição encarniçada que sofre e propondo-se a sair se for ele que estiver atrapalhando o Corinthians.

Haverá uma reunião com o ridículo presidente atual para tratar do caso. Se Cássio sofrer o mesmo destino de Gylmar e Rivellino, o Corinthians vai passar recibo de que não merece ter ídolos exemplares como ele, mas sim boleiros com a estatura moral do Luan e do Matias Rojas. (por Celso Lungaretti)
Atualização: a reunião com o Cássio já aconteceu e o parasita encartolado da vez lhe prometeu total apoio "como jogador e como ser humano" para superar este período difícil. Como as garantias do dito sujo valem tanto quanto notas de 3 reais, o ídolo do timão que se cuide: se a infiel torcida pedir a cabeça do passador de promessas sem fundo, não tenho a mais remota dúvida de que ele entregará a do Cássio numa bandeja para salvar a própria. (CL)   

LUTA PELA PALESTINA PODE LEVAR OS EUA A NOVO LEVANTE ESTUDANTIL

 

Milhares de estudantes universitários estão tomando seus campi em massivos protestos contra a parceria dessas instituições com o Estado de Israel. Na última quinta-feira, 18/04, mais de cem estudantes que acampavam no campus da Universidade de Columbia, em Nova York, foram presos pela polícia local após a reitora, Nemat Shafik, ter jurado perante o Congresso dos EUA que iria iniciar duro processo de repressão aos movimentos estudantis pró-Palestina

Sob a falácia de que tais protestos estariam disseminando o antissemitismo - a velha falsa cartada -, a feitora da referida universidade autorizou a entrada da polícia no espaço universitário para colocar fim ao acampamento. Além disso, impôs suspensões a dezenas de estudantes envolvidos nas manifestações. Contudo, o tiro, mais uma vez, parece ter saído pela culatra, pois dezenas de outras universidades ao redor do país também começaram a registrar atos massivos de protesto contra o massacre perpetrado por Israel ao povo palestino. 

Longe de serem espaços livres do saber e da crítica, as universidades estadunidenses, controladas por poderosas fundações privadas e sustentadas por inúmeros conglomerados empresariais, são parte da estrutura capitalista, fornecendo tecnologia de ponta, construções ideológicas e quadros para a continuidade da reprodução do capital. Nesse sentido, são essenciais para o pleno funcionamento da maquinaria militar dos EUA e de seu Estado-fantoche Israel. 

Polícia prende estudante na Universidade de
Columbia, em Nova York

Ao se levantarem exigindo que as universidades encerrem seus vínculos com o terrorismo sionista, os estudantes não apenas se colocam contra o massacre israelense, mas também colocam em xeque a própria lógica de inserção dessas universidades na dinâmica do capitalismo global. Daí a reação furiosa dos "financiadores", na realidade, autênticos proprietários das universidades,  que passaram a exigir que os reitores agissem contra os manifestantes. 

Aos poucos, vai surgindo um levante universitário semelhante ao ocorrido na época da guerra do Vietnã, quando milhares de estudantes também tomaram os campi universitários ao redor dos EUA para protestar contra a continuidade do conflito, tendo por ápice trágico o assassinato de quatro estudantes pela polícia no campus da Universidade Estadual de Kent, no Ohio. Até o momento, de acordo com o New York Times, pelos menos cinco campi de importância no país já registraram ocupações e confrontos com forças policiais e o número poderá crescer. 

Em 1970, na Universidade de Kent, a polícia
matou quatro estudantes em ação semelhante
às atuais

É de conhecimento generalizado que os levantes estudantis prenunciam levantes sociais mais amplos. Por estarem mais sensibilizados às pressões econômicas e serem menos atrelados às dinâmicas hierárquicas do mercado de trabalho, os estudantes tendem a abrir a trilha da revolta social antes dos demais grupos, bastando lembrar do exemplo mais emblemático de maio de 1968. O que está começando como manifestações contra o massacre ao povo palestino pode rapidamente escalar para algo mais generalizado, sobretudo se as universidades continuarem seguindo a política repressiva. 

A causa é justíssima, pois não se pode fechar os olhos aos massacres perpetuados por Israel. É preciso definitivamente dar um basta aos contínuos crimes desse país e, para isso, é preciso derrotar a máquina que o sustenta, que está localizada nos próprios EUA. Destronar o Imperialismo ianque é fundamental para dissolver a base de sustentação israelense. 

O anão Biden, morto-vivo da história, já percebeu o caos prenunciado e essa semana condenou as ações estudantis, já sentindo que ele pode ser o próximo Nixon. (por David Coelho)

terça-feira, 23 de abril de 2024

HÁ 100 ANOS NASCIA PAULO VANZOLINI, UM IMPRESCINDÍVEL DA MPB.

Quem não conheceu o autor, ator, roteirista e produtor de cinema e teatro, jornalista, cronista, médico, etc., Silveira Sampaio, não tem ideia do grau de sofisticação que um talk show já atingiu nestes tristes trópicos. 

Dos apresentadores que vieram depois, Jô Soares, evidentemente, foi o mais brilhante. Mas não daria nem para a saída numa comparação  com esse que foi o pioneiro dos talk shows televisivos, em 1957, com seu SS Show na TV Rio. 

Era o programa ideal para seus atributos de homem com vastíssima cultura, expertise em várias modalidades artísticas e capacidade de ser simpático mesmo quando fazia comentários políticos pra lá de mordazes.   

Foi no SS Show que fiquei conhecendo o grande Paulo Vanzolini, que nesta 5ª feira (25) estaria completando 100 anos (morreu em 2013). 

Eu cursava o ginásio à noite e, de volta para casa, assistia às únicas atrações de TV interessantes que adentravam a madrugada: os ótimos filmes europeus que a TV Excelsior só exibia porque lhe saíam mais baratos do que os abacaxis estadunidenses; e, quando a fita daquele dia não me agradava, o programa do Silveira Sampaio.    
A entrevista com o Vanzolini, a quem não conhecia, foi tão boa que não preguei o olho nem por um segundo. Fiquei surpreso ao saber que um homem de ciência (durante o dia era eminente zoologo, à noite boêmio da gema) tinha composto verdadeiras pérolas da MPB.

Eu gostava, principalmente, de "Volta por cima", que chegara a tocar muito nas rádios (logo adiante, ela se completaria às mil maravilhas com a obra-prima de Glauber Rocha, 
O dragão da maldade contra o santo guerreiro, destacando um dos trechos culminantes do filme).

Foi também adiante que fiquei conhecendo e gostando de outros clássicos de Vanzolini, como "Ronda", "Chorava no meio da rua", "Napoleão" e "Praça Clóvis". 

Além, claro, do "Samba erudito", que poderia até servir-lhe como cartão de visita musical: nenhum erudito conseguiu, jamais, soar tão espontâneo como sambista!

Mas, voltemos  àquele longínquo SS ShowLá pelas tantas, Vanzolini contou a história da "Capoeira do Arnaldo".

Ele costumava terminar suas noites na boate Jogral, do amigo e também compositor Luiz Carlos Paraná. E foi desafiado por outro amigo, chamado Arnaldo, a criar uma música com utilização perfeita de jargão regional. 

De estalo, escrevendo a letra num guardanapo de papel, Vanzolini compôs sua inspiradíssima capoeira, com todo jeitão nordestino.

Foi interpretada no programa do Silveira Sampaio por Luiz Carlos Paraná, que Vanzolini levara a tiracolo pra isso mesmo... 

Mas, ressalvou, como a compusera para presentear um amigo, não a disponibilizaria para lançamento em disco. Amei a música e detestei saber que nunca mais a escutaria de novo.

Lá por 1973, contudo, ao passar por um  sebo  do meu amado centro velho de São Paulo, percebi, maravilhado, que a música sendo tocada na vitrola para atrair fregueses era a "Capoeira do Arnaldo"! 

Ignorava que, certamente atendendo aos apelos gerais, Vanzolini acabara permitindo sua gravação. Comprei e toquei até o compacto simples ficar riscado.

De tanto ouvir, decorei a (longa) letra inteirinha. E em sentido figurado, não literal, sempre encarei a última estrofe  como um resumo da minha trajetória:

 

"Eu sai da minha terra/ por ter sina viageira./ Cum dois meses de viagem,/ eu vivi uma vida inteira:/ sai bravo, cheguei manso,/ macho da mesma maneira./ Estrada foi boa mestra,/ me deu lição verdadeira:/ coragem num 'tá no grito,/ nem riqueza na algibeira/ e os pecado de domingo/ quem paga é segunda-feira".
"Na boca da noite", parceria com Toquinho, é outra canção de beleza cristalina, que me tocou profundamente. Tinha tudo a ver com aquela época em que nossos amores eram necessariamente fugazes, mesmo porque não sabíamos que horrores poderiam nos atingir nas próximas horas. Embora não fosse esta a intenção de Vanzolini, foi o que então significou para mim esta pungente estrofe:
"Gente da nossa estampa/ não pede juras nem faz:/ ama e passa e não demonstra/ sua guerra, sua paz ./ Quando o galo me chamou,/ eu parti sem olhar pra trás,/ porque, morena, eu sabia,/ se olhasse, não conseguia/ sair dali nunca mais".
Vanzolini foi gênio. Foi superlativo. Foi um imprescindível da MPB. (por Celso Lungaretti)

segunda-feira, 22 de abril de 2024

TRAIÇÃO ÀS DIRETAS-JÁ ABRIU CAMINHO PARA A REDEMOCRATIZAÇÃO CONSENTIDA

Por este placar os paulistanos viram, voto a voto,
a emenda Dante de Oliveira ir sendo rejeitada...
Foi de arrepiar a campanha das 
diretas-já, desenvolvida pela cidadania para convencer o Congresso Nacional a aprovar a emenda Dante de Oliveira, que restabelecia imediatamente as eleições diretas para presidente da República.

Houve uma série de grandes comícios nas nossas principais capitais, alguns deles reunindo até 1 milhão de brasileiros (o derradeiro, em 16/04/1984, cravou a incrível marca de 1,5 milhão!) que não suportavam mais a bestialidade & boçalidade impostas pelos golpistas de 1964.

As minhas melhores lembranças são:

— o mar de camisas amarelas sinalizando a volta da esperança;

— o incrível tour-de-force de Leonel Brizola que, em função da mesquinha disputa de espaço político no campo da esquerda, começou sob vaias seu discurso numa manifestação das diretas-já na Praça Clóvis (SP) e, com sua fala empolgante, conseguiu colocar o público a seu favor, terminando sob aplausos generalizados; e

— a promessa do craque Sócrates em comício-monstro no Anhangabaú (SP), de que, caso fosse restituído ao povo brasileiro o direito de escolher seu presidente, ele ficaria aqui para contribuir na redemocratização, recusando a proposta astronômica da Fiorentina.

Infelizmente, o Congresso rejeitou naquele funesto 25 de abril a emenda Dante de Oliveira e a eleição acabou sendo, mais uma vez, indireta. 

Aí, parte dos parlamentares que haviam frustrado a vontade popular abandonou o partido da ditadura (o PDS, sucessor da Arena) e formou uma nova agremiação (o PFL, depois DEM) que, unida ao PMDB, assegurou a vitória do peemedebista Tancredo Neves no colégio eleitoral.

Os vira-casacas de última hora receberam as recompensas de sempre.
...por haver obtido só 62,6% de  votos favoráveis e não os
66,67%  que seriam necessários. Os ausentes decidiram.

Um dos piores deles era José Sarney,  que presidia o PDS mas estimulou a dissidência que viraria PFL... tendo, contudo, ele próprio se filiado ao PMDB, provavelmente para tornar mais digerível sua indicação para vice na chapa de Tancredo (a qual, evidentemente, já haveria sido articulada nos bastidores).

A presidência acabou lhe caindo no colo: como Tancredo, vitimado por uma infecção generalizada, nem sequer pôde assumir (Deus castiga!, diziam os antigos), o primeiro presidente pós-ditadura acabou sendo alguém que, meses antes, era um dos mais servis serviçais dos militares.

Eis as perguntas que não querem calar:
1. quando, exatamente, esses congressistas de origem  arenosa  decidiram desembarcar da canoa furada da ditadura?
2foi só depois de eles terem assegurado, com seus votos, a rejeição da emenda Dante de Oliveira?
3ou já era este seu objetivo desde o início, tendo voltado as costas ao povo para depois obterem bom preço nas barganhas com o PMDB?

Nunca tive a menor dúvida de que o jogo foi de cartas marcadas: o carteador trapaceou!
Foto divulgada para tranquilizar os brasileiros quanto  ao
estado de saúde do Tancredo; causou péssima impressão
.

O certo é que, pelo voto popular, daria Brizola ou Lula; pela via indireta, no infame tapetão, deu Tancredo.

A grande imprensa, sob a batuta da Rede Globo, tudo fez para vender o conceito de que tal saída da ditadura pela porta dos fundos era o coroamento das diretas-já

Fomos poucos os que, não só percebemos o embuste, como nos mantivemos coerentes com nossos valores, e, em meio à euforia orquestrada, denunciamos que tinha sido, isto sim, o resultado de uma traição à causa que havia mobilizado intensamente os melhores brasileiros

O oba-oba saudando a Nova República foi poeira colorida atirada nos olhos dos videotas, que acabaram engolindo gato por lebre: uma redemocratização pela metade, com expressiva participação de remanescentes ou cúmplices da ditadura, ao invés da verdadeira ruptura com o totalitarismo que a aprovação da emenda Dante de Oliveira teria propiciado.

Vai daí que não se investigaram as atrocidades cometidas pelo regime militar, nem se julgaram os criminosos (já que haviam anistiado preventivamente a si próprios!).
A eles se juntaria em 2016 a Dilma, segunda impichada

E, por havermos deixado passar o momento ideal para a apuração e punição dos responsáveis por tais episódios infames, a impunidade das bestas-feras e dos seus mandantes se tornou inevitável e irreversível. 

Impotente para mudar o rumo daquela farsa coonestada por uma esquerda já então ávida pelos nacos de poder que poderia conquistar sob a democracia burguesa, só pude desabafar:
"Não, não serei eu a tecer loas à transição manipulada que deu fim à ditadura militar sem mudança real na composição do poder (só nos métodos...) e sem que deixassem o povo decidir quem ele queria colocar no lugar do último general ditador. 
Nem endeusarei jamais! o político conservador com carisma zero que preferiu ver os brasileiros derrotados mais uma vez, desde que isto lhe permitisse apropriar-se da faixa presidencial sem passar pelo crivo das urnas".  
Enquanto isto, os bons companheiros engoliam não só o matreiro Tancredo Neves como (até mesmo!) o camaleônico José Sarney.  

Então, acabou sendo Sarney o presidente da redemocratização e, claro, esta ficou pela metade, exatamente por ser uma redemocratização consentida, sem coragem política para ultrapassar os limites traçados pelos que, presumivelmente, estariam deixando o poder. (por Celso Lungaretti
Brizola, por sua atuação destacada para frustrar o golpe já em 
1961, era quem os militares menos aceitariam como presidente.

sábado, 20 de abril de 2024

CONSERVADORISMO NA ERA DIGITAL

 Eu tinha quase 14 anos quando o golpe, cinicamente apelidado de  a redentora pelos golpistas, foi deflagrada em 01 de abril de 1964, quando as tropas do General Olímpio Mourão Filho desceram de Juiz de Fora rumo ao Rio de Janeiro num desfile de soldados e veículos diante de uma população indiferente àquilo que mais parecia um treinamento militar do que uma insurreição golpista.  

Havia no Brasil de 1964 uma insatisfação popular gerada pelo alto índice de inflação de 1963, que alcançou o patamar de 83,2% ao ano e pela queda no crescimento econômico, que saiu de 6,6% em 1962 para 0,6% em 1963. 

O plano trienal do ministro Celso Furtado não deu os resultados esperados e o governo João Goulart impôs medidas de contenção de despesas e restrição de crédito que provocaram insatisfações inevitáveis. O povo brasileiro - e é assim no mundo inteiro onde há eleições - vota nos governantes pelo bolso.   

Com as más notícias da economia, gerou-se uma insatisfação popular insustentável diante de um quadro de contradições  governamentais geradas pelo fato de que João Goulart, um populista político, misto de latifundiário rural dos pampas e trabalhista nacionalista, guardava a identidade política do governo getulista de quem fora ministro do Trabalho, mas sem jamais ser um comunista como queriam os membros do Partido Comunista Brasileiro e como temia o establishment naqueles tempos de  guerra fria e de revolução cubana. 

Os militares, que ambicionavam a volta de influência política no poder desde o general Eurico Gaspar Dutra, e que haviam se frustrado com o suicídio de Getúlio Vargas, responsável por abortar o golpe já consolidado naquele 24 de agosto de 1954, viram em 1964 as condições ideais para a tomada do poder. 

Os Estados Unidos, temerosos do alastramento do exemplo revolucionário cubano, vinham programando uma contenção do poder político pela força militar na América do Sul, fato que se comprovou posteriormente na Argentina e Chile, emprestou apoio político e militar preventivo para o golpe de 1964, estacionando grande poderio bélico e tropas de prontidão desde o Caribe até a costa brasileira, caso fosse necessário, na chamada operação Brother Sam

Não foi necessário: o golpe militar de 1964 teve apoio considerável da população brasileira sob o comando conservador da elite política, econômica, cultural e religiosa brasileira e a esquerda brasileira, sempre confiante em governos populistas dito de esquerda, de uma hora para outra percebeu que estava quase sozinha na defesa das bandeiras reformistas e capitulou sem resistência.  

Assim, seus membros sofreram o diabo nas mãos dos militares, que voltaram as costas até mesmo para seus apoiadores de primeira hora como Carlos Lacerda e Juscelino Kubitscheck, crédulos na restauração das eleições civis em 1965, e que sofreram posteriormente a cassação dos direitos políticos, providências que se tornaram extensivas a muitos outros políticos incautos. 

Mas a dinâmica da dialética do movimento social terminou por demonstrar à população brasileira no início dos anos 80 do século passado, a insustentabilidade dos métodos e posturas dogmáticas capitalistas dos militares e seus governos caíram de podre.  

Mas como a memória coletiva é curta, há quem defenda a volta desses ao poder político, orientados por uma cegueira elitista que não consegue enxergar um palmo diante do nariz e quer a volta ao passado, como se fosse possível restaurar o uso da máquina de escrever em substituição ao computador da era digital.         

Não nos iludamos! As mudanças de conceitos e costumes aculturados nas mentes populares, mesmo que perversos e contrários aos interesses da maioria, são difíceis de serem superados num estalar de dedos, até porque é sempre mais fácil a acomodação de sobrevivência com o que se conhece, mesmo que ruim, do que com o desconhecido, ainda que possa ser aparentemente promissor.    

Mas, hoje, a conjuntura é outra, ainda que o conservadorismo esteja nas mentes inseguras e desinformadas dos oprimidos, a grande maioria, o fato é que o capitalismo apodrece.  

Vivemos a era na qual a contradição entre forma e conteúdo do capitalismo está de tal forma inviabilizando a vida social que a própria intelectualidade elitista revisa os seus conceitos e estabelece uma divisão profundamente polarizada de posturas entre conservadorismo e progressismo político.  

Não é a miséria que se aprofunda aquilo que é capaz de promover a superação das categorias capitalistas, porque se assim fosse, a África seria o paraíso na terra, mas é o pensamento e a ação orientadora de conceitos feita a partir de uma juventude engajada num processo de ruptura e orientada por uma filosofia da práxis emancipatória, aquilo que será capaz de promover o início da emancipação humana.  

Lula foi eleito pela lembrança de seus dois governos anteriores que fora bafejado pela sorte de uma conjuntura internacional de elevação dos preços das comodities, que é o que o Brasil tinha e tem para vender. Dilma caiu por conta da explosão de insatisfação de 2013. Os dois fenômenos são iguais no conteúdo mais profundo e incidem sobre um mesmo partido político e ordem capitalista decadente.   

Mas hoje a situação é outra, pois vivemos sob um processo de depressão capitalista mundial que vem se acentuando desde a crise do sub prime de 2008/2009, sem que os mecanismos de contenção, como aqueles usados na grande depressão de 1929/1930, sejam possíveis de aplicação.  

O responsável pela crise profunda e irreversível do capitalismo é a era da cibernética e sua terceira revolução industrial.  

Somos atendidos na entrada de um shopping por uma voz mecânica e uma máquina que nos entrega o cartão do estacionamento; pagamos a estadia numa máquina e saímos ouvindo o som agradecido de uma voz que nos convida a uma volta breve; 

- ouvem-se músicas gratuitamente numa plataforma de streaming sem que precisemos comprar um CD, o que significa que as gravadoras detentoras da propriedade musical estão falindo, e os músicos só trabalham em estúdios de gravações, sendo que os DJs estão substituindo os cantores e bandas; 

- os operários das indústrias automobilistas foram substituídos por robôs e os sindicatos metalúrgicos mendigam empregos e perdem força de barganha por aumento de salários, mesmo diante de uma inflação que ameaça a deterioração do poder aquisitivo;  

   - os donos de postos de gasolina e todo o sistema de transporte e abastecimento de gasolina e óleo estão diminuindo celeremente diante do uso dos carros elétricos e isso causa falências e uma enormidade de desempregos; 

- a comunicação digital substituiu os jornais, os livros, os panfletos, e todos os meios de comunicação impressa, e isso levou ao fechamento de jornais, editoras e livrarias; 

- as lojas estão fechando e a cena urbana é de decadência por conta dos espaços vazios que viraram estacionamentos sem veículos, porque tudo se compra virtualmente, causando o desemprego de vendedores, redução dos lucros e falência dos lojistas, com o abandono dos prédios respectivos; 

- cursos superiores à distância são ministrados de forma online, o chamado EAD; 

- fala-se, hoje, com a Islândia, no extremo norte, com a mesma rapidez e nitidez com que se fala com o vizinho de residência; 

- os advogados e juízes não mais comparecem aos fóruns, porque toda a comunicação é virtual e sem uso de papel, que está reduzindo o lucro das empresas de celuloses; 

- médicos fazem cirurgias à distância com o uso de robôs; 

- engenheiros fazem cálculos complexos em segundos no computador; 

- pagamentos e movimentações de contas bancárias se operam por aplicativos em segundos; 

- obtém-se instantaneamente informações pelo celular ou computador que antes era necessário se comparecer a uma biblioteca para obter as informações desejadas;  

- arquivos de dados e informações sobre qualquer assunto são armazenados e analisados a um toque de computador ou de celular;   

 - receitas de comidas, diagnósticos de doenças, e até formulas químicas e qualquer instrução sobre a fabricação de artefatos diversos são possíveis de serem obtidos instantaneamente pela internet; 

- sabe-se mais sobre o curriculum das pessoas e seus dados pessoais do que eles mesmas podem perceber;  

- a tal da inteligência artificial é capaz de produzir imagens de locais e acontecimentos como se fossem verdadeiras(os) e reproduzir gestos e vozes de uma pessoa com a mesma fidelidade como se fosse ela mesma a fazê-lo... 

Ufa! Os exemplos seriam intermináveis e isso tudo era antes, e há bem pouco tempo, simplesmente inimaginável. 

As relações sociais sofreram substanciais mudanças de comportamento em face das alterações de produção de mercadorias e serviços que estão a exigir uma reflexão sobre a contradição entre as formas antigas e seus conteúdos diante de mudanças drásticas que alteraram a substância dessas duas questões e seus conteúdos. 

Querer que o sapato caiba no pé independentemente do tamanho de um e do outro é inviável; precisamos, portanto, de uma adequação do sistema de produção e distribuição de bens e serviços à realidade que a dinâmica da aquisição do saber colocou a nosso favor, e não contra nós, como agora acontece.  

O saber é revolucionário e colocou em xeque a ilogia capitalista. 

Como se pode, portanto, admitir, que o conservadorismo recalcitrante e obsoleto possa querer continuar usando métodos antigos para a solução de problemas novos?! (por Dalton Rosado)

sexta-feira, 19 de abril de 2024

A VINDA DO ANTICRISTO OUTRORA BOMBAVA NAS TELAS. HOJE, COM TRUMP, PUTIN, BOZO E OUTROS CELERADOS, VIROU CARNE DE VACA

Para quem ainda considera necessária a existência de história inteligente num filme de terror, A profecia, de 1976, é um prato cheio.

Roteirista pau pra toda obra de Hollywood, David Seltzer acertou em cheio ao retomar o tema do nascimento do anticristo, depois de O bebê de Rosemary, do genial Roman Polanski, ter bombado no mundo inteiro oito anos  antes.

Bom profissional, Seltzer não fez uma mera variação do filme anterior, focado na gestação e parto do filho do demo, que ainda é um nenêzinho no momento do the end

Ele optou por iniciar sua narrativa quando o capetinha toma o lugar do filho do embaixador estadunidense na Itália (Gregory Peck), que teria falecido logo após o parto. 

O embaixador é convencido a fingir que se trata do rebento original, para poupar sua esposa (Lee Remick) de uma terrível decepção.

Obviamente, há também uma conspiração por trás dessa troca de nenês. 

E o duelo entre as forças empenhadas em evitar o desmascaramento da tramoia e as pessoas que podem fazê-la ruir chega a superar, em suspense, o filmaço de Polanski. 

O que não deve causar surpresa, afinal o diretor Richard Donner tinha currículo até melhor no campo do mero entretenimento (Superman: o filme, O feitiço de Áquila, a franquia Máquina mortífera, etc.). 

Já o seu colega polonês sempre buscou equilibrar espetáculo e arte. Em O bebê de Rosemary, p. ex., a mensagem subjacente era a de que Deus estava morto, uma afirmação muito repetida naquele ano iconoclasta da contracultura. 

Daí a fúria que o filme despertou nos carolas dos EUA, principalmente. Eles vibraram quando Charles Manson e seus debiloides sanguinários massacraram sete pessoas na mansão de Polanski, inclusive a esposa do diretor, Sharon Tate. Diziam que era castigo divino...    

De resto, Gregory Peck confere a
A profecia uma intensidade trágica raramente vista no cinema comercial. Atuação magistral!

Não é à toa que Atticus Finch, por ele interpretado no clássico O sol é para todos (d. Robert Mulligan, 1962), vem desde então constando de todas as listas dos personagens mais influentes de todos os tempos. Com outro ator dificilmente isto ocorreria.
. (por Celso Lungaretti)

 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

SENADO PROMOVE RETROCESSO GIGANTESCO NA QUESTÃO DAS DROGAS

 Esgoto do Brasil, o Congresso não cansa de promover barbaridades e retrocessos, tendo sido a última uma emenda à constituição que criminaliza o porte e a posse de drogas. Em uma mistura de guerra com o STF, canalhice, oportunismo e politicagem, os senadores, liderados por Rodrigo Pacheco (MG) colocaram na constituição, na parte referente aos direitos fundamentais (!!!) um artigo criminalizando o uso de drogas. 

Bizarro por si mesmo, o fato de tal artigo repressivo e criminalizador ser acoplado à parte que trata das liberdades fundamentais mostra apenas o quanto o ímpeto repressivo e policialesco do Estado brasileiro tem se intensificando nos últimos anos. Não poderia ser diferente, pois diante da crise aguda do capitalismo, a resposta da burguesia sempre foi o da repressão, do endurecimento penal, do cerceamento às liberdades e mesmo da ditadura pura e simples. Trata-se de velha tática para frear possíveis levantes e revoluções por parte da classe trabalhadora e do povo em geral através da instauração de mecanismos policiais e de vigilância. 

A guerra às drogas é parte clássica desse mecanismo, tendo sido gestada nos EUA nas décadas de 1960-70 no contexto dos levantes promovidos pelos protestos estudantis, por direitos civis e contra a guerra no Vietnã. Não existindo justificativa para criminalizar tais movimentos apenas por existirem - pois, lembremos, os EUA se dizem uma democracia... - resolveram criminalizar um elemento comum a todos os movimentos: o uso da maconha e de outras drogas. Assim, a repressão à posse, porte e produção dessas substâncias passou a justificar ações repressivas do Estado, com custos cada vez maiores até chegarem a autênticas guerras, como as desencadeadas na fronteira entre EUA e México e na Colômbia. 

No Brasil, a guerra às drogas se instaura juntamente com a ditadura e se aprofunda na redemocratização. Por aqui serve de justificativa para o controle de populações pobres, trabalhadores das periferias, que colocam um risco vital à classe dominante caso se levantem. A ação truculenta da polícia, como vista rotineiramente no Rio em São Paulo, funciona como um meio preventivo de contenção, demovendo, pelo terror, possíveis ações populares. Na prática, tais setores da sociedade brasileira vivem à margem da legalidade constitucional, tendo seus direitos violados sistematicamente. Ao estabelecer a proibição constitucional, o Senado avança mais para rasgar os direitos fundamentais desses grupos, os colocando em segundo plano frente ao controle e à repressão estatais. 

A guerra às drogas também serve a inúmeros interesses econômicos e políticos, indo desde as forças policiais que recebem rios de dinheiro público para montar seus mastodônticos exércitos, passando pela corrupção, pelo interesse dos setores financeiros na lavagem dos valores, pelos grupos religiosos com suas comunidades terapêuticas, até as inúmeras bancadas que recebem torrentes de voto a partir do discurso policialesco. Nenhum desses interesses quer acabar com a fonte financeira, ela precisa continuar fluindo, mesmo que às custas do sangue do povo, sobretudo negro e pobre. 

Mais uma vez, portanto, vemos o quanto o parlamento, especificamente o brasileiro, não é nunca será saída para nada. De lá sempre teremos apenas retrocesso. (por David Coelho)

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